26 outubro, 2007

RISOTERAPIA

CARTA DE UMA MÃE ALENTEJANA

Mê querido filho:
Escrevo-te algumas linhas apenas pra saberes que tou viva. Tou-te a escrever devagar, pois sei que nã sabes ler depressa.
Nã vás reconhecer a nossa casa quando voltares, pois nós mudamos-nos. Temos uma máquina de lavar rôpa, mas nã trabalha muito bem, a semana passada puz lá catorze camisas, puxei a corrente e nunca mais as vi.
Acerca do tê pai, ele arranjou um bom emprego, tem 1.500 homens debaixo dele, pois agora está cortando a relva do cemitério.
A magana da tua irmã Maria teve bébé esta semana, mas sabes, eu nã consegui saber sé menino ó menina, portanto nã sei sês ti ó tia.
O té ti Patrice afogou-se a semana passada num depósito de vinho, lá na adega cuprativa, alguns compradris tentaram salvá-lo mas sabes, ele lutou bravamente contra eles. O corpo foi cremado mas levou três dias pra apagar o incêndio.
Na quinta fêra fui ao médico e o té pai foi comigo. O médico pôs-me um pequeno tubo na boca e disse-me pra nã falari durante dez minutos. Atão nã sabes que o té pai ofereceu-se logo pra comprar o tubo ao médico.
Esta semana só choveu duas vezes. Na primeira vez choveu durante três dias e na segunda choveu durante quatro dias. Na segunda fêra teve tanto vento que uma das galinhas pôs o mesmo ovo quatro vezes.
Recebemos uma carta do cangalheiro que informava que se o último pagamento do enterro da tua avó nã fôr fêto no prazo de sete dias, devolvem-na.
Olha,mê filho, cuida-te.
Nã te esqueças de beber munto lête todas as nôtes, antes de interrares os cornos na fronha.
Um bêjo.
Jaquina do Chaparro
PS. Era para te mandar 1o Eros, mas já tinha fechado o invelope, nã tos mandei.
Fica prá próxima, porra!

Zé Manel Cachola.

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